quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Minicontos

Vibracall

com medo de falar pelo telefone, ela mandou um SMS
e aquele numero
nunca mais vibrou.

_______________________________________________________________


Adivinha

Naquela tarde ele morreu de cancer
e nunca mais viveu em paz. 

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Noturno

É no turno escuro 
que o que é claro acontece, anoitece. 
estremece
e penetra o amanhecer. 

Fumaça na boca
o copo sem sede
a moça ali cede
e tudo entra em você. 


Como eu quero

Era um romance antigo, nunca realizado. Primeiro Davi se foi, estudos, família, distância. André ficou. Cartas, bombons, horas de telefone. Aí, Davi voltou r André se foi. Escola, família e mais distância. 

Enquanto não houve distância não houve amor.

Por parte de Davi era só amizade, amor e tesão. Para André era o amor que não cabia em si. Nada menos que o amor lhe interessava. Quando Davi se foi , o chão se abriu, a fome passou e o sono era pesadelo. Os dias só passavam através de poemas, música e lágrimas..... até o reencontro acontecer. Com a distância ainda maior, as cartas eram mais constantes, as promessas mais intensas e o amor que parecia explodir , com o tempo adormeceu. 

Os anos passaram e Davi se casou com Marcos e Gui. André se casou com Tânia. Filhos nasceram de todos os lados. Enquanto o tempo passava, o amor adormecido muitas vezes despertava, nas datas, nas músicas que tocavam no carro, nas lembranças das  risadas. "Como será que ele anda?" - Pensavam. E um belo dia , com casamentos desfeitos os dois saravam suas mágoas e criavam risadas para sobreviver e pensando algumas vezes, sem querer, um no outro. 

Quando um amigo em comum adoeceu um reencontro aconteceu e palavras faltaram. E foi assim que Davi e André descobriram que o amor nunca acabou, que o tempo nunca passou e pararam exatamente daquele tempo...onde as promessas não foram cumpridas. Reataram, juntaram os amores, os filhos e continuavam vendo o pôr-do-sol ao som de "como eu quero". 



Máscara de mim

Magrela,dentuça
minha única saída 
seria aprender a voar

Passei pro lado Deles
pichava o muro com amora
aprendi a jogar bola
e nem pensava em namorar

Aprontava todo dia
minha grande agonia
era ter que me enfeitar

Aprendi ali brincando 
me defendendo atras dos campos
para não desencantar
chateava todo mundo
e esperava a melhor hora
para me desmascarar.




O abraço da velha na Boca do Monte



O ano passava inteirinho até entrarmos no avião com coisas pelos braços, sempre atrasadas para a possibilidade de uma vida nova. Passei a minha infância e boa parte da juventude vivendo com minha mãe suas tentativas de voltar a viver na sua terra natal. Essas tentativas duravam o tempo exato das férias de verão. Exceto uma vez, que o verão durou todo o inverno.
Verde Colorido - Chácara das Flores
Atravessava o país voando, e atravessava o estado gaúcho pela estrada para entrar na Boca do Monte...cheia de verde colorido, chão de pedra embutida, marcado de doces na esquina e chegava no portão menor que eu, com um ferrolho singular e lá estava a velhinha da Vila do Carmo, sentada em sua cadeira de balanço, com o mate do lado , a cabeça branca e o braço molinho, gostoso de apertar.
Dois meses voavam, e aprendi a viver morrendo de saudade de lá, ou de cá. Hoje quando volto a Santa Maria da Boca do Monte diminuiu a cidade, o chão de pedra asfaltou, o mercado virou lan house e a vovó já não está mais ali...Aquela casa, aquela vila, aquela vida , tinha muito cheiro de eternidade....nunca pensei que fosse acabar.
Mas... ainda sento na calçada e dou aquelas risadas infantis, e lavo minhas mãos do cheiro de cigarro cigarro nas filhas das pitangueiras e sonho em soltar meus filhos lá , para essa história continuar....

Vila do Carmo - a casa que só existe em fotos. 


Auto retrato (13.03.12)

Não me reconheço com os 30 que me é imposto . Não me percebo com os 30 da novela, da expectativa, da idealização capitalista.  Meus trinta se divide por dois e eu ainda lhe diminuo + 2. Dois. Número de filhos que tenho, o número de experiência acadêmica que me formata. Dois que configura meu tempo de Estra, o meu tempo de ser e meu tempo de ir....e voltar. 

Signo de ar, o que faz de mim um vendaval. Filha de Ogum , Oxum dos DOIS lados, odum positivo, Ibeji na alma e Oxalá no meu caminho, de pé, me amando loucamente. 
Tenho metas metidas em mim: desapegar, desconstruir,deslocar,humanizar e desiludir. 
__________________________________________________________________________


_______________________________________________________________


Vamos faz um pacto...
fique só com meu sapato
e não me verá jamais

Vamos fazer um plano....
me deixe ir
sem fazer pergunta
para ter a chance 
de voltar

Vamos seguir por ali...
mas se eu me perder
não me ache aqui
parada
frustrada
cantando
calada
pra ti

Vamos fazer o seguinte...
se acelero depressa
isso não interessa
nem a você, nem a mim.



Oficina de Texto e Produção Literária. Ufba 2012.1

Este blog é resultado da produção semestral da oficina de texto, ministrada pelo professor Eduardo Laranjeira, docente do Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia.

Como aluna me sinto na obrigação de aqui expor um feedback sobre suas aulas.

Foi muito boa a oportunidade de me desligar de meu campo de pesquisa e me deixar envolver por uma produção livre de normas e convenções, explorar o espontâneo  o lúdico e dessa forma aprimorar minha escrita e minhas reflexões.  Foi sem duvida a melhor forma de aprender conceitos literários e conhecer sobre estilos, autores e obras.

Sem dúvidas uma matéria que abriu brechas para vontades inusitadas de não mais me desligar do mundo literário.
Foi muito bom.